terça-feira, 26 de abril de 2011

Moradores de rua conquistam novas oportunidades

Por: Anne Clara Gomes

A desigualdade social é um problema comum em todas as nações. São inúmeros os motivos que levam a este desequilíbrio. A má distribuição de renda, a exclusão da sociedade, o precário ambiente familiar, o baixo nível educacional, entre outros aspectos. Várias são as consequências, como a violência e a marginalização. 
De acordo com levantamento feito pela Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Fundação José Silveira e Ministério Público Estadual (MPE), 79,8% dos moradores de rua são homens. Os negros representam 49%. Pessoas com idade entre 18 a 39 anos figuram 70,2%. Já as mulheres, crianças e adolescentes somam 10,5% dessa população. Os bairros onde mais se concentram moradores de rua são: Cidade Baixa, Barroquinha, Pelourinho, Baixa dos Sapateiros, Barbalho e Centro da Cidade.  
Nas praças de Salvador, como a Piedade, por exemplo, é possível encontrar um número significativo de pessoas em situação de risco. São indivíduos que perdem o emprego e não podem pagar o aluguel. Outras com problemas afetivos e familiares. Um alarmante é a droga e o álcool. Alguns saem do interior para tentar uma vida melhor na capital e não conseguem.
Morador de rua na praça da Piedade
Vários são os motivos que fazem uma pessoa morar na rua. Luiz Souza, 46, mora na Praça da Piedade há quatro anos e diz ter vindo para Salvador melhorar de vida, mas acabou decepcionado com a falta de oportunidade na capital. “Deixei mulher e meus três filhos em Baixa Grande onde morava. Passei a morar na rua porque as pessoas só fechavam as portas para mim e eu não tinha dinheiro para me sustentar”, lamenta. O morador de rua sente vergonha e diz que não quer voltar. “O que mais me dói é a saudade, mas voltar pra lá sem nada, é desesperador”.
Hoje, na capital, existem mais de 2.000 pessoas em situação de risco. Segundo a Secretaria Municipal do Trabalho, Assistência Social e Direitos do Cidadão - SETAD, órgão responsável pelos moradores de rua, existem políticas públicas voltadas para essa população. O exemplo disso são os trabalhos feitos com alguns moradores de rua. Eles são levados para tratamento de dependência química ou encaminhados para casas de acolhimento.

Novo olhar
A vontade de vencer das pessoas que fizeram ou ainda fazem parte da população de rua, pode servir de exemplo para outras que vivem nessa realidade. O jornal Aurora da Rua, produzido na comunidade da Igreja da Trindade, localizada no bairro de Água de Meninos, tem como objetivo dar voz àqueles que são pouco vistos ou escutados pela sociedade, tornando, através desse periódico, um meio transformador na vida dessas pessoas.
O jornal é feito por moradores e ex-moradores de rua que, mesmo com a falta de recursos financeiros, conseguem conceber um veículo de comunicação em Salvador. Esse projeto, além de transformar a vida dessas pessoas, tem a capacidade de mostrar para a sociedade a força desses indivíduos. Sem oportunidades, lutam para viver de maneira honesta e digna, possibilitando um olhar mais positivo em relação aos moradores de rua. Segundo o Coordenador da equipe de vendedores, Edcarlos Venâncio, o nome “Aurora da Rua”, possibilita reflexão.
O impresso tem a rotina igual a qualquer outro. “Todos os voluntários, jornalistas e as pessoas que escrevem se reúnem dentro da sede do jornal todo final de semana e elaboram a pauta da próxima edição”, diz Maria Pereira, escritora e vendedora.
Elias Lima, voluntário e ex-morador de rua, conta sobre a mudança em sua vida após conhecer e fazer parte desse jornal. “Eu não fazia nada antes de entrar para o Aurora da Rua. Era mendigo e bebia o dia inteiro. Depois que descobrir o jornal, minha vida mudou. Hoje sou voluntário e aqui nessa comunidade faço artesanato, principalmente, com papel reciclado”, relata.
O jornal além de incluir as pessoas que estão excluídas da sociedade, é uma fonte e garantia de renda. “Com o trabalho do jornal eu mantenho a minha casa, e pago as minhas contas, me torno uma pessoa independente. Às vezes recebo R$ 300 ou R$ 350 por mês, outras vezes um pouco menos, mas dá para sobreviver”, garante Maria Pereira.
Hoje em dia, o preconceito ainda faz parte do cotidiano dessa população, mas com força de vontade essa realidade é combatida. “As pessoas têm costume de ao ver um morador de rua, se proteger, sentir nojo, repúdio. Quando abrem e leem o jornal Aurora da Rua, o perfil de um deles, por exemplo, simplesmente enxerga-o de outra forma”, comenta Maria.

Para saber mais informações sobre o jornal e como participar do grupo, basta acessar o site http://www.auroradarua.org.br/ e tirar as dúvidas.

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