sexta-feira, 10 de junho de 2011

O negro na TV

 Por Carol Pires

Um negro, galã de novela das oito, em emissora global... ver Lázaro Ramos interpretando o papel de um garanhão incomoda parcela da sociedade. Parece estranho para outros, e para alguns, normal. Assim, a cor da pele, ainda é motivo de muito tabu e discussão na sociedade que se diz livre do racismo, no entanto, o negro ainda é visto com preconceito ainda que velado e disfarçado e, isto dificulta a percepção dessa forma de discriminação.

O ator de etnia negra, Pedro Albuquerque, 25, atuando há nove, concorda: “Atualmente ser negro é mais fácil que há 20 anos, porém ainda há discriminação racial. O negro continua sendo visto como ‘o atleta’, ‘o artista’, ‘o alegre’, ‘o objeto sexual’”. Ciro Silva, também ator há seis anos, 26, vai mais além: “Acredito que o negro é muitas vezes visto pela sociedade como um marginal ou um coitado, alguém que não sabe ler nem escrever”, conclui.

A constituição Federal determina a prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, mas Silva acha que a justiça deve se preocupar com outras coisas como a violência de um modo geral, pois o preconceito é evitado a partir da educação que é algo que vem de casa. O advogado Sérgio São Bernardo, 30, acredita que a lei é eficaz, mas ressalta: “o caráter imperativo da Lei faz com que as pessoas tenham medo de praticar o racismo em virtude da punição. O problema é que o racismo deveria ser abolido da humanidade independentemente da existência de castigo”. O advogado ressalva que o cumprimento das decisões judiciais em relação ao tema ainda está muito aquém do que deveria, apesar de alguns segmentos da justiça fazerem um esforço em cumpri-las e punir os infratores.

Albuquerque diz que já enfrentou situações de preconceito, mas que nunca recorreu à lei e que os negros buscam se amparar nela em, apenas, alguns casos. Silva diz: “Acredito que a maioria dos afrodescendentes já sofreu algum tipo de preconceito, nem que seja no olhar de um segurança que algumas vezes te segue ao entrar numa loja” e afirma que quando essas coisas acontecem, fica calmo e tenta fazer com que formem um conceito positivo sobre ele.

Uma das maneiras de combater o preconceito seria o uso eficaz dos meios de comunicação, visto que, na pesquisa "Hábitos de Informação e Formação de Opinião da População Brasileira", realizada pelo Governo Federal em todo o Brasil, no ano passado, foi identificado que 96,6 % dos entrevistados, vêem televisão. Assim, a televisão atinge, majoritariamente, a população brasileira, e, portanto, pode difundir modos de ver e pensar e influenciar comportamentos.

Bernardo concorda que, os meios de comunicação são responsáveis pela difusão de ideias e valores, e como tal, podem contribuir de forma significativa para a divulgação da lei, tendo, portanto, responsabilidade total, em vista que conseguem alcançar um grande número de pessoas, “difundir as ideias contra o racismo, ou qualquer forma de discriminação é obrigação dos meios de comunicação”, enfatiza.

Quanto aos movimentos de etnia negra, Silva duvida da eficácia e acredita que alguns são mais preconceituosos do que a própria sociedade. No entanto, Juliana Dias, jornalista, coordenadora de projetos do Instituto Mídia Étnica e editora do Portal Correio Nagô afirma: “uma das questões, que temos tido nos últimos anos, tanto o movimento negro quanto o movimento pela democratização da comunicação é com relação ao debate sobre a TV pública. Para que possamos ter uma comunicação que possa dar voz à sociedade de fato, que não seja uma comunicação apenas comercial ou estatal é preciso discutir TV pública e também o marco regulatório dos meios de comunicação”.

Contudo, Albuquerque afirma que algumas vitórias têm contribuído para promover mudanças na forma como o negro é visto pela sociedade, como a eleição de Barack Obama, o estrelato de atores negros (brasileiros e internacionais) e o crescimento de universitários afro descendentes. Silva também pontua os bons atores negros como importantes para a valorização da etnia negra, mas conta que ainda fica desapontado com o fato de ver atores brancos menos competentes tendo mais notoriedade que os negros competentes, principalmente em telenovelas nacionais. Pedro desabafa: “Fico mal, mas prefiro me fortalecer com essa informação e valorizar cada vitória e esforço rumo aos meus objetivos pessoais”.

Dias ressalta que, há poucos negros na televisão e que o modo como a mídia os representa, inferioriza-os ainda mais: como empregadas domésticas e motoristas; interpretando indivíduos submissos; e projeções constantes de imagens degradantes e negativas em relação aos afro-descendentes. Para ela, isto fortalece e perpetua o preconceito e o racismo no país, pois exerce impactos na percepção da população negra sobre si mesma, mexendo com a auto-estima desta população, significando também uma violação dos direitos humanos. Mas, Albuquerque é otimista e conclui: “Os atores negros têm combatido o racismo provando que não é a cor da pele que define talento ou qualidade técnica. O trabalho e uma postura consciente são nossas principais armas”.

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